Espaço dedicado a afrontar os inimigos naturais do GLORIOSO. Aqui é apenas PERMITIDO "partir os cornos" à BRONKOSFERA: árbitros, jornaleiros amestrados, chulos, vira-casacas e outros corruptos. Podem também ’’Xingar’’ o clube do parceiro,o presidente,o primeiro ministro,o padre da freguesia,comer a filha da vizinha (se for coisa boa) ou comer onde mais lhes apetecer mas...cuidado, não tentem nunca macular ou denegrir o glorioso S.L.Benfica,dirigentes,atletas, técnicos,etc.ENTENDIDO?
QUANDO O ESPÍRITO BENFIQUISTA PREVALECE, NÃO HÁ DERROTA, CORRUPTO, MERCENÁRIO OU ARRUACEIRO QUE O CONSIGA APAGAR OU FAZER REGREDIR.
BENFIQUISMO É ESTADO DE ALMA SEM DEFINIÇÃO, PRIVILÉGIO DOS PUROS!
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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
AFINAL ELE SABE MESMO DO QUE FALA
Octávio Machado sempre foi e será uma figura engraçada, controversa, muitas vezes retrógada e quando fala, há muita gente a pôr-se em sentido e com os nervos à flôr da pele, principalmente, os que lhe pisaram os calos. E a verdade é que os "pisadores" não retrucam os seus comentários.PORQUE SERÁ?
Eis mais umas quantas "bocas" produzidas pelo Palmelão na sua última entrevista cedida a Rui Tovar no jornal www.ionline.pt publicada em 06 de Fevereiro de 2010.
. Octávio Machado. "Liedson bate num director e vai à selecção?"
Paulo Futre já não está sozinho no primeiro lugar isolado dos entrevistados mais descontraídos e bem-humorados que o i apanhou. E não, não se faça de esquisito. Você sabe muito bem daquilo que eu estou a falar. Pois é, Octávio Machado, de 60 anos, 19 deles como jogador, oito como adjunto e quatro como treinador, é o homem de que falamos. A sua maneira descomplexada de falar varre quase tudo à frente, porque o sistema está (im)plantado e o agricultor de Palmela não cultiva amizades nesses terrenos movediços. Esta entrevista teve a duração de um jogo de futebol (hora e meia) mas a verdade é que parecia mais um jogo de râguebi, tal a força e o impacto das declarações de Octávio, entre sorrisos, uns irónicos, outros complacentes.
Como se apresenta o Octávio como jogador?
Cresci no Palmelense, a partir dos 14 anos, quando fiz os testes de rotina no Centro de Medicina do Desporto. Media 1,35 metros e pesava 35 quilos. Veja lá que o clube nem tinha chuteiras para mim. Tive de me treinar com sapatilhas, mas cresci com essas dificuldades. Fui campeão distrital de juniores e de seniores pelo Palmelense, onde já era capitão de equipa aos 17 anos, antes de me transferir para o V. Setúbal.
Quanto ganhava no Vitória?
Dois mil escudos por mês. E 150 escudos por vitória na equipa de reservas. Foi lá que cresci como jogador e como homem. Tenho dificuldade em deitar- -me tarde e gosto de acordar bem cedo. A minha conduta foi sempre exemplar: nunca fumei nem bebi bebidas brancas, só um copito de vinho aqui e ali. E também porque encontrei um senhor chamado José Maria Pedroto, um homem de causas, valores e princípios, que nunca se dava por vencido. Com ele, não havia vida fácil. Era extremamente exigente, mas, ao mesmo tempo, carinhoso e justo com aqueles que interpretavam as suas leis. Com ele, o Vitória coleccionou dois 3os lugares e um 2.o Houve um campeonato [1971-72] em que ficámos 25 jornadas seguidas sem perder um único jogo e também espalhámos perfume por essa Europa fora [quartos--de-final da Taça UEFA em duas ocasiões]. Sem esquecer que cheguei à selecção nacional pelo V. Setúbal.
E como é que a selecção não foi a nenhum Mundial ou Europeu com aquela geração fantástica de jogadores: os mais veteranos (Eusébio, Torres e Jaime Graça), os mais novos (Octávio, Nené, Humberto Coelho, Peres e Toni) e os emergentes (Vítor Baptista, João Alves, Bento, Manuel Fernandes e Oliveira)?
Ainda tive a felicidade de jogar com Eusébio, Peres, Jaime Graça e Torres. Mas a selecção era frágil, em termo de espírito de grupo. Havia cisões clubísticas, não havia calor humano e a determinada altura a selecção nacional era local para descanso. Sem esquecer que as grandes vedetas, que não estas que referi agora, nunca estavam presentes. Aqueles que podiam fazer a diferença, fragilizavam--se na hora de decidir.
Está a falar de quem?
Dois grandes jogadores. Um é o Vítor Baptista [V. Setúbal e Benfica], que, certa vez, apareceu no estágio vestido de uma forma descabida. Mas isso até nem foi o mais preocupante. Quando fizemos o primeiro treino, ali perto do hotel, o plantel corria para um lado e ele corria para o outro. Na volta seguinte, andávamos desencontrados outra vez. Foi recambiado para casa, naturalmente. Íamos jogar com Chipre, na qualificação para o Mundial-78. O outro é o António Oliveira [FC Porto, Bétis, Penafiel, Sporting e Marítimo], que foi um grande jogador mas podia ter sido um génio. Mas não foi homem na hora da verdade. Faltou--lhe a componente humana. Por isso, Eusébio e Figo são melhores que ele.
Já percebi que não vai à bola com Oliveira. Foi sempre assim?
Sempre, foi sempre assim. Quando o FC Porto foi campeão nacional em 1978, ao fim de 19 anos de seca, eu e ele jogávamos juntos. Você nem imagina o que ouvi da boca dele! No jogo do título, com o Benfica, a três jornadas do fim, eles marcaram primeiro, num autogolo de Simões, logo aos três minutos, e o Oliveira disse--me que aquilo tudo ia dar para o torto, que havia um cemitério debaixo do Estádio das Antas, que teríamos um azar eterno. Mas empatámos aos 83', por Ademir, e sagrámo-nos campeões na última jornada [4-0 ao Braga, com golos de Oliveira, Octávio e Gomes, 2]. O Oliveira sempre foi assim, um complexado, com a mania do outro mundo. E nem lhe conto o que ele fez para festejar o título.
Vá lá, conte lá...
Enquanto os jogadores esforçados, batalhadores e guerreiros do FC Porto festejavam o título nacional de 1978 em suas casas e junto das suas famílias, porque na altura não havia cá autocarro de dois andares nem passagem pela câmara municipal, o Oliveira exibia-se na Avenida dos Aliados, com o seu descapotável. Ao seu lado, Fernando Gomes, o bibota, e Quinito, uma jovem promessa em quem Pedroto sempre depositou enorme esperança, sem os devidos resultados. E eles os três a curtir o título num descapotável. Eu e o Oliveira sempre tivemos filosofias de vida e desportivas completamente incompatíveis.
Então como se entendiam quando ele era o seleccionador nacional e o Octávio o treinador do Sporting?
Ah, isso é simples. Não nos entendíamos. Mas a culpa é dele; evitava-me. Certa vez, mandou um adjunto dele chamado Joaquim Teixeira, que até é meu amigo, ao Sporting e ele lá apareceu a perguntar por mim, na 10-A [a mítica porta por onde entravam e saíam os jogadores do Sporting, antes e depois de cada treino e jogo]. E eu disse ao porteiro que devia ser engano. Se era o adjunto da selecção nacional, devia querer falar com o adjunto do Sporting e não comigo. Por isso indiquei o meu adjunto Vítor Damas para falar com ele. Então o seleccionador nacional não quer falar comigo sobre os jogadores do Sporting e manda o adjunto? Ó Miguel, isto é só rir.
Pois, imagino, e voltámos à selecção nacional. Não foi o Octávio que esteve para fazer dupla com Artur Jorge no segundo reinado dele?
Sim, é verdade. E é curioso que diga reinado porque esse termo minou a relação entre mim e o Artur Jorge. No FC Porto, fui adjunto dele de 1985 a 1987, ano em que conquistámos a Taça dos Campeões. Depois, ele foi para França. Quando voltou ao FC Porto, já vinha um outro Artur Jorge, talvez porque tenha sido rotulado de rei lá em França. A verdade é que o Artur Jorge nunca foi homem de dar a cara. Ainda estava na Suíça, a treinar a selecção deles para a fase final do Euro-96, quando me ligou a pedir um lugar no Sporting. E eu é que era o treinador principal do Sporting. Ele queria chegar a Alvalade e ser o rei, de novo.
Foi isso que aconteceu?
Ah, ah, ah! Ó Miguel, já lhe disse que isto é só rir, não já? E é mesmo. Em 1996, o Artur Jorge reassumiu a selecção nacional. Ele é que escolhia os seus adjuntos e disse logo que o Jesualdo Ferreira não servia. O nome foi-lhe proposto e ele disse-me ao telefone: 'Não quero o Jesualdo, ele que vá para outro lado, para porteiro, sei lá. Aqui não. Quero o Octávio.' Mas, no meio desse convite, o Artur Jorge sugeriu-me, como sabia que havia um quid pro quo entre mim e os Oliveiras, que eu concedesse uma entrevista a dizer bem deles para facilitar a coisa. E eu nada. Sem prestar atenção a esse detalhe, pus-me a mexer. Falo com Roquette [presidente do Sporting] e ainda ligo ao Fernando Ferreira [médico do Sporting] para ele também formar parte do staff técnico.
E depois?
Estou muito bem em Itália, no meio de um estádio em Bolonha, onde ia participar num torneio triangular, quando um colega seu jornalista me avisa que o adjunto é o Raul Águas. É pá, eu não acreditei nisso, mas ele insistiu nessa tecla e sem se desmanchar. Agarrei num telemóvel qualquer que estava ali à mão e telefonei para o dr. Guilherme Aguiar, ao que ele me respondeu: "Ó Octávio, então você tem linha aberta para o Papa e está a telefonar para o padre?" E então liguei ao Pinto da Costa. "Ouça lá, o senhor está por detrás disto?" "Eu não, não tenho nada a ver com isso." Bem, eu estava mais furioso que sei lá o quê. Quando regresso a Portugal, via Bolonha, recebo uma série de chamadas do Artur Jorge, mas moita! Até que ele liga para o telemóvel do Carlos Janela [dirigente do Sporting], que me passou a chamada. Ele começou logo por me dizer: "A tua ida para a selecção complicou-se." E eu disse-lhe: "Tu deves estar a brincar comigo. Eu não te admito uma coisa destas." "Pois, porque o Madaíl...", tentou ele dizer-me. "O que é que o Madaíl tem a ver com isto, Artur? Não és tu o seleccionador? Não foste tu quem se armou em rei, não foste tu que disseste que quem escolhia as pessoas que iriam trabalhar contigo eras tu e apenas tu? Não disseste que eras tu quem mandava? Queres entregar a minha cabeça numa bandeja aos meus inimigos. Disponibilizei-me para trabalhar contigo e agora passo pela vergonha de andar nas bocas do mundo, como se tivesse sido eu a oferecer-me para o lugar." E ele sempre a defender--se, a dizer-me que ainda era o homem da sua confiança, que me iria escutar na hora das convocatórias. Aí disse-lhe: "Artur, vai pró c******! Comigo nunca mais falas." Então mas isto é um jogo de meninos?
Mas a vossa relação já era assim no FC Porto?
Não, não, não. Por alguma razão fomos campeões europeus. Isso só se consegue com disciplina e respeito mútuo, apesar de um percalço ou outro.
Como a história do Juary na final da Taça dos Campeões?
Ai o Juary. Bom rapaz mas caiu em algumas tentações. Fico feliz por o ver bem, e a treinar em Itália. Era o nosso Joker, aquele que entrava e desbloqueava um empate. Mas ele era danado para a brincadeira. Então quando o vi a descer as escadas de manhãzinha, no dia do jogo com o Bayern Munique, percebi logo que ia haver confusão. Fui atrás dele e apanhei-o na sauna, em animada conversa com um empregado do hotel, que também era brasileiro. Dei-lhe uma daquelas broncas. Ele ficou cá com uma azia. Na hora do almoço, ficou à minha espera à porta do restaurante e perguntou- -me se o Artur Jorge sabia do desaparecimento dele naquela manhã. Disse-lhe que não, mas que se não fizesse a sua parte naquela noite, eu e ele [Juary] iríamos ter uma conversa séria e que lhe fazia a folha. Nessa noite, entrou e marcou o golo decisivo [2-1].
Pois, diz-se que o Octávio controlava os jogadores do FC Porto, ia a casa deles ou telefonava-lhes para casa.
Ainda não havia telemóveis, senão... Ah, ah, ah! Verdade seja dita, nunca houve um jogador que fosse multado por mim no FC Porto. Nem sequer havia regulamento interno. Mas agora cabe na cabeça de alguém fazer uma lista com os dez mandamentos? As regras são do conhecimento público. A única vez que fui a casa de alguém foi à do Futre. Sabe, ele gostava muito de dormir e, uma vez, disse ao enfermeiro do FC Porto que não ia fazer o tratamento à tarde. Quando soube disso, arranquei para a casa dele, tirei-o da cama com o toque de campainha e disse-lhe muito simplesmente: "Olha Paulo, vou ali beber um cafezinho e quero ver-te nas Antas quando chegar lá, daqui a nada." Dito e feito. De resto, nunca fui um espião nem nada parecido.
Nem quando treinou o Porto, em 2001?
Nem aí.
Mas e então aquele caso com o Jorge Costa [em Setembro de 2001, o capitão é substituído aos 40 minutos com o V. Setúbal e atira a braçadeira para o chão, em sinal de desaprovação]?
Quem? Ah, a fotocópia. Pois é, a fotocópia. Por muita qualidade que tenha, a fotocópia nunca é igual ao original. Nesse aspecto, o João Pinto [capitão do FC Porto nos anos 80 e 90] ganha ao Jorge Costa por 200 a zero. O problema do Jorge Costa não era só um. Chamavam-se Jorge Andrade e Ricardo Carvalho. E depois Ricardo Costa, e depois Bruno Alves. Mas sobretudo Ricardo Carvalho, que era emprestado aqui e ali e nunca se fixava no FC Porto. Quem o segurou lá? Ah pois é [Octávio Machado]! E diga--me lá se o FC Porto não o vendeu ao preço de um avançado? Porque 30 milhões de euros para um defesa é muito. Mas o Jorge Costa é mentiroso. Nesse dia da braçadeira, não falei com ele mas ele disse à imprensa que tinha empatado 0-0 [numa alusão ao resultado do jogo aquando da substituição]. Mentira, ganhámos 3-0. E para quê aquela coisa toda? Ele no jogo seguinte, com o Celtic, para a Liga dos Campeões, foi titular. Portanto não perdeu o lugar naquela tarde, com o V. Setúbal. Foi depois, e porque os outros dois davam-me mais garantias. Mas disse-lhe a ele, à frente de todos os jogadores, no balneário, para explicar o gesto da braçadeira. E o Jorge, nada.
E o balneário, como reagiu?
Ele era conhecido como o bicho. Eles [companheiros de equipa] lá saberão por quê! Eu não vi nada do bicho. Há para aí muitas espécies de bicho. Ele provocava-me indirectamente. Uma vez foi à selecção com o Capucho, para um jogo fora do país. Disse-lhes para dormirem em Lisboa e só voltarem ao Porto no dia seguinte. Não fizeram nada disso. Chegaram ao Porto a altas horas da madrugada, via Lisboa, e lá estavam no treino, às 8h30. Isto são pequenas provocações. Manda quem pode, obedece quem deve. Tínhamos de preservar a capacidade de recuperação dos dois e eles provocaram--me. Não desejo que ele [agora treinador do Olhanense] tenha um Jorge Costa no seu plantel. Por isso é que o Pintinho [Pinto da Costa] recuperou o João Pinto e outras antigas glórias, como o Fernando Gomes, o Vítor Baía, o Rui Barros. O Pintinho foi buscar os pesos-pesados para ver se levanta o FC Porto.
Pinto da Costa é o FC Porto?
De uma vez por todas, ponham isto na cabeça: o FC Porto de hoje é o FC Porto do Pedroto. Foi ele que criou os alicerces deste clube, e não o Pinto da Costa. Alimentaram, e aqui eu também faço uma autocrítica, a criação de um Deus, de um ser todo-poderoso. Todos pensávamos que ele ia resolver todos os problemas, mas não. Transformou-se e já não é aquele senhor com quem travei batalhas importantes no final dos anos 70 e início dos 80. Senti isso em 1988, depois de o FC Porto ganhar a Taça de Portugal ao V. Guimarães. Na relva do Jamor, disse que os familiares do Pedroto é que sentiam a falta dele. E voltou a falar disso no "Domingo Desportivo". Ele sentia-se o mais forte, um Deus. Mas agora, no jantar de comemoração dos 25 anos da morte do Pedroto, o Pinto da Costa já lhe quer dedicar o próximo título de campeão nacional, em 2010. Há muitas coisas que não lhe perdoo.
Diga só uma, então.
Em Dezembro de 2001, ainda estava eu a treinar o FC Porto, um senhor... como se chama ele... ah, já sei... Fernando Gomes, exactamente esse que agora se demitiu da SAD do FC Porto. Esse Fernando Gomes aconselhou-me a não fazer o que o clube fizera nos anos anteriores, em termos de reforços de Inverno. Se o FC Porto entrasse na reabertura do mercado sem cuidado, punha em causa os ordenados de Março. Portanto, senti que aquele FC Porto já não era o meu. A situação piorou na véspera do jogo com o Sparta Praga, para a Liga dos Campeões, quando marquei uma reunião com o Rui Barros, num hotel do Porto, para analisar um reforço. Quando cheguei lá, vi o presidente [Pinto da Costa] e um empresário [Jorge Mendes]. Telefonei logo ao Rui Barros e perguntei-lhe se ele tinha dito a esses personagens para irem ter connosco, ao que ele negou. Então disse-lhe para ele ir para casa. E eu também fui. Curiosamente, nesse dia, o jornal "A Bola" fazia manchete com um jogador chamado Ivica Olic [avançado croata, na altura com 21 anos e a jogar no modesto Marsona, agora no Bayern Munique], que custava um milhão de contos. Fiquei lá mais um mesito. Hoje, à distância, já dá para rir.
E foi aí que se decidiu pela saída?
Sim, claro, então tinha de dar entrada ao Special One [José Mourinho], que mal entrou disse que o FC Porto só tinha cinco jogadores. Então estou ilibado de qualquer acusação de maus resultados. Não ganhei, porque só tinha cinco jogadores. Mas ganhei, sim senhor. Na época anterior, o FC Porto falhou a Champions, eliminado pelo Anderlecht. Na minha época, fizemos 16 jogos na Champions e ganhámos a Supertaça portuguesa, os dois objectivos traçados na pré-época. Conseguir isso com cinco jogadores, como diz o Special One, é muita fruta.
Por falar em fruta, é verdade que quase andou à pêra com um jornalista?
Não. Aquilo foi um gesto paternal, aquilo que os pais fazem aos filhos. Não me diga que nunca viu isso? Simplesmente apertei o nariz do João Pedro Abecassis, do "Record". Ele era um jovem jornalista com legítimas ambições de mostrar serviço, subir na carreira, mas aquelas críticas contra mim eram descabidas. Mas já está tudo ultrapassado. Foi um período turbulento, que coincidiu com a minha saída do Sporting.
Da chama do dragão para as garras do leão, saiu arranhado?
Encontrei muitos profissionais sérios no Sporting. Como o Oceano. E três estrangeiros: o Marco Aurélio [central brasileiro], o Naybet [central marroquino] e o Amunike [extremo nigeriano]. Todos eles profissionais íntegros. A parte má daquele clube era o Norton Matos e C.a
Ilimitada?
Sim, ilimitada. Há um lugar mau no futebol português que é o de director-desportivo. E quando o presidente Roquette me diz que o Norton de Matos é a pessoa mais qualificada para o mercado sul-americano, farto-me de rir. Há até um caso que ainda hoje é memorável.
Desta vez, vai contar sem eu lhe pedir?
Está bem, vá. Quando cheguei ao Sporting, os jogadores iam para os treinos como se fosse uma escala para as inaugurações das lojas, tantos eram os convites que recebiam para inaugurar isto, apresentar aquilo. Acabei com isso e sugeri aos jogadores que negociassem prémios de jogo por vitória. Eles aceitaram de olhos fechados e isto define um grupo. Na pré-época seguinte, Simões de Almeida [dirigente do Sporting] e Norton de Matos foram a Lamego negociar os tais prémios com os jogadores, à minha revelia. Na primeira jornada da Liga dos Campeões, ganhámos 3-0. Sabe a quem? Ao Mónaco! Sabe quem jogava lá? Vou recordá-lo: Barthez, Deschamps, Henry, Trezeguet. No dia seguinte, o Norton entra no balneário e pede-me para baixar os prémios de jogo na Liga dos Campeões, porque os bons administradores do Sporting ofereciam tanto dinheiro nos prémios de jogo que a própria qualificação para a fase seguinte dava prejuízo. Mas isto cabe na cabeça de alguém?
Na do Sporting?
Pois... Ainda agora queimaram duas glórias do Sporting: Pedro Barbosa e Sá Pinto. O Sá reagiu mal com o Liedson, mas as coisas não acontecem por acaso.
Mas ele já teve um problema grave, com o Artur Jorge [Março de 1997].
Sim, está bem, ele é impetuoso e o caso foi grave mas é preciso ver isso como um todo. Levou um ano de suspensão da FIFA. E o João Vieira Pinto, que esmurrou um árbitro em pleno Mundial? Três meses. E o Pepe que pisou de propósito um jogador do Getafe e foi suspenso dez jogos pela Liga espanhola? Entretanto jogou na selecção sem problema. E o Liedson, que agrediu um director [Sá Pinto] e mesmo assim continua a jogar na selecção? Que moral têm esses senhores? Então o Liedson vai jogar? Então essa federação desses Madaís? Onde está a autoridade? A FPF vive da selecção nacional.
Isso quer dizer o quê?
Estávamos [Sporting] a assustar muita gente. E o sistema não admite isso... Lembro-me de tudo. O Sporting foi ganhar às Antas [2-1, com golos de Beto, Barbosa contra um de Barroso] e faltava uma jornada para jogar o dérbi com o Benfica. Pelo meio, 4-1 ao V. Guimarães, em Alvalade. Nessa semana, o Artur Jorge convoca jogadores para a selecção nacional e chama um único jogador do Sporting, o Pedro Barbosa, por troca com o Sá Pinto, em relação à última chamada. Mas este lesiona-se com o V. Guimarães e o Sá Pinto, que tinha um grande jogo, pergunta-me o que deve dizer se os jornalistas o questionarem sobre a selecção. Digo-lhe para se mostrar disponível. Qual não é o meu espanto quando vejo no jornal "Record" de terça-feira um artigo a dizer que o Sá Pinto não era chamado porque se incompatibilizava com os colegas, que se irritava facilmente, que atirava bolas para a fora. Eu li aquilo e senti-me mal. E esse texto surgiu de uma conversa entre jornalistas e um elemento da selecção nacional. Repito que o Artur Jorge nunca foi de dar a cara por nada. Lembro-me bem dele, que evitava os adeptos em fúria nas Antas quando o FC Porto perdia pontos fora de casa. Pedia sempre ao motorista para o deixar a caminho do estádio, ali perto da Ponte da Arrábida.
Mas, e o Sá Pinto?
OK. Nós [do Sporting] íamos para Marrocos participar num torneio. Tivemos treino de manhã e havia ali um hiato para ir a casa, buscar a mala e encontrávamo-nos aeroporto. A caminho do aeroporto, ouço na rádio que o Sá tinha agredido o Artur Jorge. O Sá, ao contrário do que muita gente pensa, foi ao Jamor a convite do psicólogo da selecção para se despedir dos jogadores. Chegou lá e passou-se com aquela coluna de opinião do "Record". Quando as coisas se proporcionam, quando as coincidências são evidentes, é de mais. E o Sá, indignado, explodiu. Apanhou um ano. Os outros andam aí, à solta. E até jogam pela selecção nacional. É uma vergonha. É como aquela história dos túneis.
Qual?
Ah, são tantas. É o túnel do Marquês, é o túnel de Braga, é o túnel da Luz. Este país não se entende com os túneis. Faz-nos confusão. Ó Miguel, continuo a dizer--lhe: isto é só rir.
E quem vai rir em Maio? O Benfica?
Isso agora, não sei. Mas deixem lá sossegado o Benfica, a jogar bom futebol, a encher os estádios deste país e a dar dinheiro aos clubes mais necessitados e mais pobres.
P.S.-Pena ainda não se ter decidido por a "boca no trombone" acerca do que sabe sobre o Apito Corrupto.
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