Super Dragões, a criatura que ameaça o criador
por António Pedro Pereira e Rui Frias05 fevereiro 2006 JN
Nos últimos anos, o papel dos Super Dragões foi ganhando um peso desmedido no FC Porto. Serviram de escolta a Pinto da Costa no Tribunal de Gondomar, ameaçaram treinadores e jogadores, invadiram treinos, serviram para quase tudo. Agora, depois dos incidentes com Adriaanse, que a SAD lhes imputa, tornaram-se indesejáveis e ameaçadores no Dragão.
A 3 de Dezembro de 2004, Pinto da Costa entrava no Tribunal de Gondomar, para ser ouvido no âmbito do processo Apito Dourado, escoltado pelos Super Dragões (SD). Naquele dia, a claque serviu de guarda pretoriana ao histórico líder. 13 meses depois, a criatura virou-se contra o criador e os SD passaram de instrumento de apoio a foco de ameaça para a administração da SAD, que requisitou até para o treino desta tarde a presença de uma brigada policial, para se proteger da claque (ver caixa).
O esfriamento das relações entre Super Dragões e a SAD começou a ganhar contornos de confronto já esta época, a partir do momento em que a claque decidiu contestar a saída do capitão Jorge Costa: "Perdoa-lhes Jorge, eles não SAD em o que fazem", exibiram num pano, no jogo com o Penafiel.
De então para cá, as relações hostilizaram-se. A SAD boicotou a autobiografia do líder da claque, Fernando Madureira, fazendo "grande pressão para que o livro não saísse porque achavam que algumas das revelações do livro não eram boas para a imagem do clube", contou ao DN fonte próxima de Madureira - "Macaco" para a claque. O conflito agudizou-se em actos e palavras. O FC Porto negou-se a comercializar a autobiografia de Madureira nas Lojas Azuis; a claque faltou ao jogo com o Dínamo de Moscovo, em "protesto contra a política comissionista da SAD". Os Super Dragões contestam sobretudo o papel de alguns elementos da SAD, principalmente Adelino Caldeira - um ódio antigo - e Antero Henrique, o actual director do futebol, a quem os SD acusam de ter "subido na costas" de Reinaldo Teles, "o tio da claque".
A ruptura total, essa, aconteceu no domingo passado, após os ataques de alguns adeptos ao carro do treinador holandês Co Adriaanse, com o FC Porto a induzir responsabilidades a elementos dos Super Dragões e a retirar-lhes o apoio.
Para trás fica uma intimidade quase promíscua, como denunciava Costinha, em entrevista à revista Sábado em Novembro do ano passado. "De dia ameaçavam os jogadores, à noite jantavam com dirigentes do FC Porto", referia o médio agora no Dínamo de Moscovo. O jogador reportava-se à época passada, em que os Super Dragões invadiram um treino de Victor Fernandez antes do jogo em Guimarães, terão agredido jogadores após o empate com o Nacional, na Madeira (Derlei passou a andar com seguranças até ir para a Rússia), serviram de guarda-costas a Carolina Salgado nas bancadas do Estádio da Luz e escoltaram Pinto da Costa ao Tribunal de Gondomar. "Macaco" tornou-se até visita de casa de Pinto da Costa, onde esteve no último Natal. "A minha mulher é muito amiga da Carolina [Salgado]", lembra o líder da claque no seu livro.
Uma intimidade que começou a escrever-se numa discussão entre os dois, em plena crise da época 2000-2001. O FC Porto fora goleado no Restelo (4-1) e os SD foram de madrugada pintar as paredes do Estádio das Antas com frases contra a SAD, "para abanar a estrutura", justifica Madureira. Supreendidos por Pinto da Costa, deu-se um confronto verbal. "Há alguém do nosso grupo que manda uma boca e o presidente sai do carro. Vira-se para mim e pergunta se fui eu. Não, não fui eu. Porquê, qual é o problema?, respondi". A claque ganhou ali o direito ao apoio institucional do clube, pela primeira vez desde a fundação.
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